Uma
fonte fidedigna, como adoramos dizer nós jornalistas, me contou como foi um
encontro épico, realizado logo após a primeira partida final do Campeonato
Mineiro, no Gigante da Pampulha.
Um
dos mais influentes e decisivos Deuses do Futebol mandou chamar em sua luxuosa
sala o Galo.
Um encontro inédito até então. O tal Deus não conversara com ninguém
nos últimos anos.
E
lá foi o Galo, empolgado e intrigado, promover tal diálogo:
Toc,
toc, toc...
-
Entre, a porta está aberta.
-
Olá, boa noite, Eu sou o Clube Atléti...
–
Eu sei, Galo! Te conheço bem. Sem formalidades comigo.
-
Ué, mas o senhor nunca conversa com ninguém?!
-
Mas só eu sei quantas quartas–feiras de sono você me tirou nos últimos tempos,
com essas suas insistentes viradas históricas, torcida emocionada e tudo mais.
Meu telefone não para de tocar com pedidos de seus apaixonados seguidores. E se
eles soubessem que eu não fiz quase nada pra te ajudar hehe. Melhor deixar isso
quieto. Te chamei aqui por outro motivo. Você não recebeu meu recado?
-
Recebi, sim. Mas não entendi direito.
- Percebi. Eu preparei todo o terreno, te trouxe de volta diversos apaixonados
perdidos, te dei a chance de mostrar ao Brasil quem manda no Mineirão, colori
em preto e branco cada pedaço cinza desse gigante que ansiava por paixão e
emoção de verdade e não lhe pedi nada demais. Apenas um descanso. Que você
vencesse logo no primeiro jogo e parasse com essa história de reverter
resultados em cima da hora. Custa?
-
Mas, senhor... A Caldense é um bom time, bem armada e não toma gol nem por reza
–
Opa! Aí não. Você se concentrou? Me pediu direito? Nada, foi tocando pra lá e
pra cá só por que não tinha que fazer dois gols de diferença que eu sei.
- Não adianta tentar enganá-lo, né? Verdade. O senhor tem mesmo certa razão. Mas eu não consigo explicar. Estou
viciado. Sem emoção ao extremo eu não consigo viver. Me distraí vendo aquela
festa linda e como não tinha nada para reverter nos minutos finais acabei me
esquecendo.
-
De defender pênalti no último lance, fazer gol depois dos 40 do segundo tempo,
e reverter desvantagem de 2 a 0 você não esquece né, rapaz.
-
É. Difícil me imaginar vivendo sem isso. Virou um combustível. E devo admitir.
Eu adoro isso. Não só eu, mas meus milhões de companheiros que reclamam, mas no
fundo não sabem viver de outra maneira.
-
E aí. O que eu vou fazer com vocês, hein? Você não vai esquecer essa história
de vingança nunca mais?
-
Olha, o senhor mais do que ninguém viu o tanto que sofri nesses tempos. Quantas
sacanagens. Desculpa, mas minha vingança está só começando.
-
Agora você PRECISA vencer a Caldense. E aí?
-
Disse bem. Preciso. E uma de suas maiores criações disse em 2013: “Quando tá
falando tá valendo”.
-
Você é fogo hein, moleque. Já pensou que
coloquei o Inter no seu caminho, pra começar em casa?
-
Já. Não vai ser fácil, mas o senhor já me colocou desafios piores né.
-
Tá ok. Pode ir embora, já vi que você não vai mudar mesmo, é.
-
Não é que não quero. Eu não sei mudar mais.
Twitter @allanpassus
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